Poucas pessoas na política nacional tem tanta afinidade com a palavra "dossiê" como José Serra. Talvez só o velho ACM tivesse fama maior de colecionador de documentos contra adversários. Em 2002, Serra teria sido responsável pela operação da PF na empresa Lúnus ligada a Rosena Sarney. O vazamento para imprensa de fotos de dinheiro achado na empresa foram mortais para a pré-candidatura da então PFLista. Na oportunidade, José Sarney denunciou no Senado que Serra teria criado no Ministério da Saúde um equipe de arapongas para montar dossiês contra adversários.
Ainda no período pré-eleitoral de 2002, Serra teria usado de dossiês para tirar os PSDBista Paulo Renato e Tasso Jereissati da disputa pela indicação do partido. Em 2006, Serra apareceu na campanha paulista como vítima do dossiê dos aloprados PTisstas. Há quem acredite que os "aloprados" foram vítimas de uma armadilha montada pelo próprio Serra. Teriam aceitado comprar um dossiê e foram flagrados neste ato. A tese é coerente, afinal, o flagrante em uma circunstância destas é no mínimo curioso, além de conveniente para o PSDB. Se o "flagrante preparado" é especulação, a facilidade que José Serra tem, desde 2002, de pautar a cobertura da imprensa é um fato. Em todos estes episódios a versão predominante na grande imprensa lhe é favorável. Basta lembrar que em 2006 o Jornal Nacional da Globo escondeu a queda do avião da Gol para dar mais tempo e visibilidade ao escândalo dos aloprados.
Agora Serra alardeia sua condição de vítima no caso do dossiê sobre sua filha. Curioso que ele tenha guardado sua indignação para seu pior momento nas pesquisas. Desde junho deste ano o tucano ensaia denunciar o suposto jogo sujo envolvendo sua filha - http://livrepraque.blogspot.com/2010/06/dossies-e-dossies.html . Assim como no caso dos aloprados em 2006, ele conta com a cumplicidade de parte da mídia para enfatizar sua versão.
A rigor, este caso é de uma fragilidade gritante. O que se tem de concreto é que alguém, munido de um documento falso, obteve informações na Receita Federal sobre a filha do candidato PSDBista. Ora, a conduta ilícita evidente foi do falsário e não da Receita. Mas o caso é tratado com mais um avanço na direção do autoritarismo almejado pelo PT. A Receita Federal pode ter sido negligente, mas ao que tudo indica, não agiu visnado prejudicar ninguém, tampouco de obter dividendos eleitorais. Por outro lado, é difícil crer que um vazamento ocorrido há mais de um ano seja obra da coordenação de campanha de Dilma. Existem muitas teses para o vazamento, dentre as quais a que atribuem a briga entre Serra e Aécio pela indicação tucana, como bem descreve o jornalista Luis Nassif -
A tática de se vitimizar estava na manga de Serra. Há três meses ele ensaia denunciar o fato. Se comparármos com o comportamento tucano em 2006, houve uma antecipação reveladora. Serra patinou nas pesquisas e teve que ceder ao embate agressivo pregado por alguns aliados. Não lhe serviu a campanha propositiva de "pós-lulista", a tática do medo dos radicais PTistas e a tese de comparar biografias. A estratégia de se apresentar como vítima não é nova na política. Parece ser a única que restou para Serra. A julgar pelas últimas sondagens, também não tem funcionado...
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