Antes da eleição escrevi sobre Ciro e Marina, dois personagens de destaque neste pós 1° turno (http://livrepraque.blogspot.com/2010/04/oposicao-verde-amarela.html). Ciro foi elevado à condição de coordenador político de Dilma. Marina é disputada como grande trunfo para o 2° turno.
Na análise feita em abril, eu destacava que Ciro e Marina poderiam quebrar a polarização PT/PSDB, enriquecendo o debate de forma benéfica para nossa democracia. Dizia que se pudessem disputar unidos as eleições, partiriam de um bom patamar nas pesquisas e razoável tempo de TV. Mesmo limitada no horário eleitoral gratuito e sem Ciro, a candidata verde obteve um excelente resultado.
A candidatura de Marina trouxe um simbolismo ainda não completamente compreendido no meio político. Por um lado, mostrou que o eleitor é mais plural que as duas opções que os gabinetes de Brasília (e São Paulo) tentaram impor ao país. Por outro lado, o cidadão se mostrou sensível ao discurso da ética, do crescimento sustentável, da política pautada em ideias. Porém, o saldo mais parente da surpreendente votação de Marina não está à altura dos méritos apontados.
A "onda verde" talvez seja a pior definição sobre os resultados da eleição. Pressupõe a ideia de um movimento brusco, impensado. Não se pode ter certeza de que os votos a Marina foram deste ou daquele "tipo de eleitor". A única certeza é sobre a distribuição geográfica dos votos. Nem mesmo as pesquisas, tão imprecisas para o caso, servem de parâmetro para traçar o perfil deste eleitorado. Ainda que seja verdade que a candidatura do PV foi impulsionada por conservadores e jovens urbanos, não há razão para considerar que decisão destes seja menos qualificada que a dos demais.
A tese da "onda verde" mascara a compreensão do processo político vivido. A julgar pelas notícias e análise recentes, o legado da terceira força na eleição é um neo-ambientalismo um tanto hipócrita e uma religiosidade fora de lugar. Muito pouco, senão um equívoco.
As pesquisas de abril deste ano já apontavam a soma das intenções de voto em Marina e em Ciro em cerca de 19% (http://noticias.uol.com.br/fernandorodrigues/pesquisas/2010/1turno/presidente.jhtm). Este dado é relevante na desconstrução da ideia de que uma onda levou o país ao segundo turno. Talvez não seja atoa o chamamento feito a Ciro pela campanha de Dilma. Mesmo diante da polarização de 2006, o jovem e radical Psol obteve ao lado do Cristóvão Buarque (cuja base política, Brasília, representa 1,35% do eleitorado nacional) quase 10% dos votos. Há na sociedade mais espaço para opções fora do cardápio restrito oferecido por Lula e pelo PSDB paulista nesta eleição. Compreender as razões deste espaço é a chave para moldar a política nacional nos próximos anos. A outra opção é aceitar que para além das praias tucanas e PTistas só existem passageiras marolas.
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