quarta-feira, 23 de junho de 2010

Globo X Dunga

No site Vi o Mundo do Azenha (link na coluna à direita) há uma compilação de textos que explicam a crise entre a Globo e o técnico Dunga. Extraí trechos que considero mais relevantes, embora as informações daquele site sejam interessantes por completo.

22/06/2010 – 06h37
Globo negociou entrevistas com Ricardo Teixeira, mas Dunga vetou
Mauricio Stycer, no UOL
Em Durban (África do Sul)
Por trás do incidente entre Dunga e o jornalista Alex Escobar, da Rede Globo, durante a entrevista coletiva no Soccer City, logo depois da vitória do Brasil sobre a Costa do Marfim, esconde-se uma história que revela o alcance do poder do técnico da seleção brasileira.
O UOL Esporte apurou que a Globo negociou diretamente com Ricardo Teixeira, presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), entrevistas exclusivas com três jogadores da seleção, entre os quais Luis Fabiano. As entrevistas iriam ser exibidas durante o programa “Fantástico”, no domingo, horas depois da partida contra Costa do Marfim, vencida pelo Brasil por 3 a 1. Dunga vetou o acerto.
O incidente entre Dunga e Alex Escobar ocorreu quando o jornalista conversava ao telefone com o apresentador Tadeu Schmidt exatamente sobre este assunto. O técnico percebeu o que ocorria e perguntou: “Algum problema?” Escobar respondeu: “Nem estou olhando para você, Dunga”. O técnico replicou em voz baixa, o suficiente para ser captado pelo microfone à sua frente: “Besta, burro, cagão!”
Diversos jornalistas na sala de entrevistas ouviram Escobar desabafar: “Insuportável, bicho, insuportável. O Rodrigo (Paiva) foi revoltado lá falar comigo, cara. O Dunga não deixou. Ninguém. Caraca, nem o Luís Fabiano. Infelizmente. Valeu, Tadeuzão”.
Muitos também notaram que Rodrigo Paiva, diretor de comunicação da CBF, fez o gesto de quem soca a parede a certa altura da entrevista coletiva. Paiva tem tentado se equilibrar entre o atendimento à imprensa e o respeito às exigências de Dunga. No cargo há nove anos, gentil com todos os jornalistas, o assessor dá sinais cada vez mais evidentes de reprovação à política de clausura imposta pelo técnico.
Horas depois do incidente, durante o “Fantástico”, Schmidt falou: “O técnico Dunga não apresenta nas entrevistas comportamento compatível de alguém tão vitorioso no esporte. Com frequência, usa frases grosseiras e irônicas”. O jornalista da Globo não mencionou, no entanto, o motivo do atrito, ou seja, a recusa do técnico em aceitar um acordo feito entre o presidente da CBF e a emissora.
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21 de junho de 2010
Há dois anos, Dunga anunciava “área de desconforto” com a Globo
Por Luciano Borges, no Terra Magazine
A saia justa entre o técnico Dunga e a Rede Globo é antiga. Há exatamente dois anos, em entrevista exclusiva ao Blog do Boleiro, o treinador dizia que tinha criado uma “área de desconforto” para os profissionais da emissora.
A primeira vez em que Dunga tornou público o conflito com a Globo, aconteceu dois dias depois do empate entre Brasil e Argentina (0 a 0), no dia 19 de junho de 2008. Naquela partida, Dunga ouviu a torcida no Mineirão cantar “Adeus Dun-ga, Adeus Dun-ga”. E soube que tinham feito leitura labial do que falou no banco de reservas.
Veja o que Dunga disse na época e constate que pouca coisa mudou:
Dunga, como você está?
Tranqüilo. Estou puto, mas estou tranqüilo. Sei que querem a minha cabeça porque criei uma zona de desconforto para quem estava acostumado a cobrir a seleção brasileira sem sair de casa. Porque tinham a escalação, o time, as preferências do treinador. Mas isto mudou.
De quem você está falando?
Queira ou não queira, a poderosa manda e os caras que trabalham para ela acham que mandam. Não digo que seja a TV Globo, mas alguns profissionais que trabalham lá e estavam acostumados com privilégios e não têm mais. Lá nos Estados Unidos, vieram pedir para entrevistar um jogador à uma da manhã. Disse não. Eles foram à loucura. Um câmera ficou dizendo que ia falar com A, B ou C, mas falei que não. Não tenho culpa se os caras chegaram atrasados em três dos quatro treinos que dei. Não é meu problema se o cara perdeu a hora passeando no shopping. E eu disse para o cara: “Não vai jogar a responsabilidade em cima de mim”. Depois dizem que o Dunga é carrancudo. Tenho senso de justiça.
As relações entre você e os jornalistas estão estremecidas?
Comigo, os repórteres perguntam tudo e eu respondo tudo. O que fiz foi atender o que 95% da mídia pediu e 100% da população brasileira queria: coloquei ordem, acabei com a festa que foi na Copa do Mundo de 2006. E estou atendendo o que o meu patrão determinou.
Mas a reclamação não é só dos profissionais da Globo.
Veja como são as coisas. Os caras que a vida toda reclamaram dos privilégios de uma emissora, agora se juntam com ela para meter o pau. Quem reclamava das tendas de algumas tevês que cobriam os treinos e faziam entrevistas na hora que queriam, agora tem tratamento igual. Mesmo assim, reclamam. Mas não vou dar nada para ninguém. Mas está tudo dez. Sei que os caras vão fazer leitura labial comigo, mas não mudo de posição. Estou tranqüilo.
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Luiz Antônio Prosperi
“Globo x Luxemburgo: só tensão“, copyright Jornal da Tarde, 11/09/00, no Observatório da Imprensa
via blog do Evaldo Novelini
As relações entre a TV Globo e Wanderley Luxemburgo são tensas. O Departamento de Esportes da empresa não concorda com os métodos de trabalho que o técnico vem empregando na Seleção. A crise se acentuou com as denúncias contra o treinador e a campanha da emissora para que Romário disputasse a Olimpíada de Sydney. Ao final dos Jogos, espera-se por uma nova e talvez definitiva batalha entre Globo e Luxemburgo.
Na era Luxemburgo, que começou em 1998, a Globo não vem encontrando as mesmas regalias que tinha na era Zagallo (1994 a 98). Quando Zagallo era o técnico, nos intervalos dos jogos e logo após o apito final, ele procurava o repórter da Globo para uma rápida entrevista exclusiva. Era, no mínimo, um acordo de cavalheiros. Nunca técnico e emissora divulgaram se havia um contrato entre as partes.
Alguns jogadores importantes, como Ronaldinho (Inter de Milão), também procuravam o microfone da Globo antes e durante a Copa do Mundo de 98 para entrevistas exclusivas. Agentes dos atletas informaram que aqueles jogadores também tinham “acordo de cavalheiros”. Quando Luxemburgo assumiu a Seleção, a Globo perdeu a exclusividade. O vaidoso técnico procura todas as emissoras.
A Globo não gostou. A crise ficou evidente no intervalo do jogo entre Chile e Brasil, em Santiago. A Seleção estava sendo humilhada. Tino Marcos, repórter da Globo, correu atrás de uma declaração de Luxemburgo e tudo o que ganhou foi um empurrão. Foi a gota d’água para a emissora abrir fogo contra o treinador.
Entrevista fatal – Tino Marcos, em seguida, conseguiu a entrevista exclusiva com Renata Alves, ex-funcionária de Luxemburgo que denunciou o escândalo da sonegação fiscal. A matéria foi levada ao ar no Jornal Nacional. Na mesma semana, o programa No Mundo da Bola, da rádio Joven Pan, informou que Renata havia cobrado R$ 20 mil pela entrevista.
Luxemburgo não esconde o conflito com a Globo. Nos dias que antecederam o jogo contra a Bolívia, o técnico teve duas ásperas conversas com Tino Marcos. O caso chegou a Luis Fernando Lima, diretor de Esportes da TV Globo.
Nos bastidores da Seleção, mais evidente na campanha das eliminatórias, Luxemburgo vem mantendo uma relação tensa com a Globo. Da emissora, apenas o repórter Mauro Naves e o locutor Galvão Bueno gozam da simpatia do técnico.
Aliás, Galvão viveu uma noite tensa no último dia 2, véspera do jogo Brasil e Bolívia, no Rio. O locutor foi informado que o Jornal Nacional iria explorar a denúncia da revista Época, uma publicação da Globo, sobre o caso do “gato” de Luxemburgo, que tem duas datas de nascimento em seus documentos. Conversou com o treinador e com pares da Comissão Técnica da Seleção em busca de uma saída para a crise.
Naquela noite, Galvão e a reportagem do JT receberam indicativos de que Luxemburgo entregaria o cargo. Um telefonema de Ricardo Teixeira, presidente da CBF, ao técnico adiou a sentença final. Teixeira deu uma trégua ao treinador “vai durar até pelo menos o fim da Olimpíada” ou o fim do Brasil nela.

Pressão inútil - Dentro da Comissão Técnica da Seleção, suspeita-se que se Romário fosse convocado para a Olimpíada a Globo desistiria da pressão contra Luxemburgo. Nas duas semanas que antecederam a convocação final dos Jogos Olímpicos, a Globo, na maioria dos seus programas de esportes e até no Fantástico, fez uma acirrada campanha favorável à convocação do atacante do Vasco. A conta é simples: com Romário na Seleção o `ibope’ sobe.
“Recebemos um recado de um grande editor, um chefão da imprensa, dizendo para levarmos o Romário para a Olimpíada porque assim criaríamos um fato novo e todos esses supostos escândalos seriam abafados, esquecidos”, confidenciou uma fonte próxima da Comissão Técnica da Seleção e da cúpula da CBF.
Luxemburgo não levou Romário. Ele e Ricardo Teixeira pagaram para ver.
Aguardam o desfecho da Olimpíada para ver o que pode ocorrer. O técnico sabe que está na berlinda. Sabe também que a crise que se instalou na Seleção Brasileira passa pela disputa da audiência e vendagem de jornais, em especial no Rio.
O primeiro jornal a denunciar o caso da sonegação com as acusações de Renata foi O Dia. Com tiragem de 320 mil exemplares diários, o jornal disputa a faixa do mercado com o jornal Extra, que superou o concorrente com 380 mil/dia. O Extra pertence às Organizações Globo e entrou firme no caso Luxemburgo. Este mesmo jornal é sócio da Federação do Rio de Futebol na organização do Campeonato Carioca, que nas últimas edições tem como estrela solitária o eterno Romário.

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