Do IG -No começo de abril, 60 operários darão início a uma obra num terreno de 220 hectares em Tauá, município de 17 mil habitantes localizado no sertão cearense. O trabalho promete ser duro. Distante 340 quilômetros do mar, Tauá ganhou fama por ser o lugar com a maior incidência de sol entre os 184 municípios do estado. Por causa dessa peculiaridade, em pouco tempo a cidade será conhecida também por abrigar a maior fazenda de energia solar da América do Sul, a segunda maior do mundo. A produção começa até o final do ano, mas a princípio será modesta: apenas 1 megawatt, suficiente para abastecer duas mil pessoas. Até 2013, esse número deverá chegar a 50 MW, gerando energia capaz de iluminar uma cidade de 100 mil habitantes.
Essa é a nova face do desenvolvimento nordestino. Indicadores macroeconômicos mostram nos últimos anos que a região tornou-se um dos mais dinâmicos pólos de investimentos e de consumo do País, movido principalmente pelo aumento da renda. Segundo o IBGE, o rendimento médio do nordestino aumentou 77% entre 2003 e 2008, enquanto o aumento médio da renda no Brasil foi de 60% no período. As pesquisas e seus números, no entanto, não captam que as transformações locais vão muito além do clichê divulgado no Sudeste que fala do aumento nas vendas de potes de margarina e de iogurte e da ridícula caricatura da troca do jegue pela moto como veículo de transporte. - Leia mais em:
Existiram obras do Gasene - Gasoduto de Integração Sudeste-Nordeste - na cidade de Camacan, terra de minha infância e ainda referência para mim. Durante os cerca de oito meses das obras, a economia do município ganhou fôlego extra. Foram centenas de operários trabalhando na implantação do trecho do gasoduto. De pousadas a padarias, todo o comércio foi beneficiado. A obra acabou e deixou pouco além dos canos enterrados. Ainda assim, há muito não existia semelhante alento, ainda que temporário, para o município.
Transformações mais profundas ocorrem na vida da pequena cidade baiana. Aumentou na última década o poder de compra de assalariados e aposentados. Ingressou no comércio local também a renda do Bolsa-Família. Aliados ao aumento do crédito, esses fatores trazem mudanças ainda pouco compreendidas. A estrutura social construída no binômio latinfundiário rico e trabalhador pobre ruiu, não só pela crise do cacau. Há uma mudança de forças no país. Mundança pautada no fortalecimento da renda da classe mais baixa, agora em posição melhor na constante disputa de espaço com os mais abastados. Não faço pregação ideológica, apenas observo e registro.
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