Resolvi que um trecho de um texto seria mais claro que minhas palavras sobre a página.:
Pólis: o Locus do Poder
Quando Lula sair do Planalto, o título de “figuraça latino-americana” vai ficar para o novo Presidente do Uruguai, Pepe Mujica. O cara tem um senso de humor eu diria juceliniano – tipo, para dizer que deixou de fato o extremismo de guerrilheiro Tupamaro de lado ele me sai com essa frase: “Politicamente, virei vegetariano!”. Parece personagem de Machado de Assis!
(...)João Paulo, ex-prefeito de Recife, mantinha uma troça, um bloco de frevo de rua, no qual tocava mesmo enquanto era prefeito. E Célio de Castro, o “Doutor BeAgá”, ia para a preifeitura muitas vezes de bicicleta – enquanto era prefeito, e bem antes da bike-hype atual.
(...)Nenhuma destas cenas é possível no Brasil há quarenta anos. E não apenas por causa de Brasília, em si; muito mais pelo “efeito Brasília”, que causou deformidades urbanas como o Centro Administrativo da Bahia (e não cessa de causar, já que Aécio Neves comete o erro de fazer igual este ano, com a Cidade Administrativa de Minas Gerais). O fato de que a política e o poder no Brasil a rigor saiu das cidades – e justo na época em que as cidades cresceram vertiginosamente em tamanho, gentes, economia e problemas – é apenas mais um sintoma de nossa desgraça urbana.
Cenas como as que tínhamos até 1960 no Rio de Janeiro, ou em Salvador até 1970, ainda são possíveis nos nossos países vizinhos: Mães da Praça de Maio em Buenos Aires, Mujica atravessando a rua para almoçar, protestos de estudantes em frente ao La Moneda no Chile, e a defesa pública de Hugo Chavez quando da tentativa de golpe ao Miraflores. Nestes países não só o poder está no centro das cidades – a população e os políticos não são separados por abismos, carros oficiais, e outros modos de cercear a cidade. Não se encastelaram, e arquitetonicamente nem tem como fazê-lo. A política, afinal, é a prática da cidade, da pólis.
(...) o Regime Militar legou esta chaga a mais: aproveitando-se da expansão excludente e carrocêntrica anterior a ele, nos deixou de herança uma classe política que mais parece a aristocracia da Baviera de Guilherme II. Uma classe que não convive com seu povo por uma impossibilidade espacial, física, urbana – o que não ocorreu nem durante o Império, nem durante o Estado Novo – e nem em boa parte do Regime de 1964.
(...)Nenhuma destas cenas é possível no Brasil há quarenta anos. E não apenas por causa de Brasília, em si; muito mais pelo “efeito Brasília”, que causou deformidades urbanas como o Centro Administrativo da Bahia (e não cessa de causar, já que Aécio Neves comete o erro de fazer igual este ano, com a Cidade Administrativa de Minas Gerais). O fato de que a política e o poder no Brasil a rigor saiu das cidades – e justo na época em que as cidades cresceram vertiginosamente em tamanho, gentes, economia e problemas – é apenas mais um sintoma de nossa desgraça urbana.
Cenas como as que tínhamos até 1960 no Rio de Janeiro, ou em Salvador até 1970, ainda são possíveis nos nossos países vizinhos: Mães da Praça de Maio em Buenos Aires, Mujica atravessando a rua para almoçar, protestos de estudantes em frente ao La Moneda no Chile, e a defesa pública de Hugo Chavez quando da tentativa de golpe ao Miraflores. Nestes países não só o poder está no centro das cidades – a população e os políticos não são separados por abismos, carros oficiais, e outros modos de cercear a cidade. Não se encastelaram, e arquitetonicamente nem tem como fazê-lo. A política, afinal, é a prática da cidade, da pólis.
(...) o Regime Militar legou esta chaga a mais: aproveitando-se da expansão excludente e carrocêntrica anterior a ele, nos deixou de herança uma classe política que mais parece a aristocracia da Baviera de Guilherme II. Uma classe que não convive com seu povo por uma impossibilidade espacial, física, urbana – o que não ocorreu nem durante o Império, nem durante o Estado Novo – e nem em boa parte do Regime de 1964.
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