Serra fez um discurso competente em seu lançamento como candidato. Aos ouvidos mais críticos, a virtude de seu discurso é também seu defeito. Foi uma ótima peça de publicidade, mas um pobre instrumento da verdadeira política.
Serra procurou calibrar seu discurso a todos os ouvintes. Quis parecer um estadista. Enfatizou a união, um contraponto à fama de desagregador que lhe é imputada. Fugiu de fazer repreensões mais duras ao governo, não só em razão da popularidade do presidente. Serra evitou críticas que o fizesse ser visto como porta voz da direita que se opõe a Lula. Em alguns momentos pareceu ter se inspirado no então candidato petista em 2002, ao pregar que o Estado tem que ouvir de trabalhadores a empresários, do mercado produtivo ao financeiro.
O presidenciável tucano sabe que não será eleito apenas com voto dos insatisfeitos. Que para ele não serve ser o mais forte adversário. Precisa agradar também os aliados do governo. Não por outra razão disse que refuta a disputa de "azuis contra vermelhos". Sabidamente, o azul é a cor do PSDB e vermelho do PT. Essa metáfora de cores retrata com perfeição o dilema de Serra.
No país há historicamente uma disputa entre liberalismo e trabalhismo. A depender do analista, essa disputa pode ser vista como entre social-democracia e populismo ou até entre elite golpista e povo. O fato é que o pós-FHC consolidou a força dos "vermelhos" no imaginário popular. Neoliberal virou um termo ofensivo, ao passo que estatizante soa quase nacionalista ante a forma como foram feitas as privatizações. Os azuis - PSDB, DEM e PPS- perderam força nas últimas eleições. Para Serra é indispensável fugir da polarização nestes parâmetros.
O discurso do PSDBista estava adequado às suas pretensões. O diabo é que ele não conseguiu fundamentar na prática sua retórica. Em São Paulo a PM do ex-governador entrou em conflito com estudantes, professores e até com a polícia civil. Seu governo vendeu o banco do estado e tentou vender a companhia energética. O próprio evento de lançamento não teve a benção popular, sendo um evento restrito a correligionários de uma aliança restrita a partidos hoje distanciados ideologicamente da massa trabalhadora.
Para os mais exigentes, o tom do discurso derrapa ao copiar a máxima de Obama: "nós podemos". Repedido diversas vezes, o bordão "o Brasil pode mais" não deixará de soar uma imitação oportunista aos mais esclarecidos. E atento, Lula ontem mesmo avisou: "Não adanta imitar o Obama porque ele já disse que EU sou o cara!"
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