A eleição na Bahia vai ser disputada por três pólos. A aliança PSDB/DEM com Paulo Souto, o PT e com Wagner e o PMDB concorrerá com Geddel. A disputa pode ser analisada na metáfora de um triângulo. Os lados representam os votos de cada candidato. A soma dos lados totaliza 100%, tendo em vista que votos não destinados aos três são desprezados neste raciocínio. É evidente que os candidatos podem crescer angariando indecisos, mas como quem vota em "A" deixa de votar em "B", os votos válidos no final são um único bolo a ser dividido principalmente entre os três.
Pesquisas recentes* apontam hoje o lado de Wagner com cerca de 54%, o de Souto 33% e o lado de Geddel tem 13% do triângulo. Apesar dos dois adversários fortes, Wagner desponta com chances de vencer no primeiro turno. Considero pouco provável a manutenção deste quadro. Muito embora as duas últimas eleições baianas tenham sido decididas no 1° turno, nem Souto em 2002, nem Wagner em 2006 superou a marca de 54% dos votos válidos. Ou seja, mesmo em eleições polarizadas apenas no DEM x PT não houve folga na disputa.
Em 2002, pouco estruturado, o PMDB obteve com Prisco Viana 4,2% dos votos válido. Já em 2006 a diferença de Wagner para Souto foi inferior a 10%. Isto demonstra que o PMDB foi decisivo para a eleição de Wagner. Se tivesse apoiado o DEM poderia inverter o resultado final. Agora com o PMDB robusto, a disputa deve ir para segundo turno.
O triângulo baiano deve mudar de forma de acordo com a rigidez ou flexibilidade de seus lados.
O lado de Wagner é o mais engessado. Seu percentual de intenção de votos reflete a aprovação do seu governo. O crescimento é relativamente mais difícil para o atual governador. É bastante conhecido e já está bem posicionado. Por outro lado, Wagner tem base sólida. Desde março de 2009 não apresentou menos de 36% nas pesquisas mais importantes. De lá pra cá sua aprovação melhorou com o arrefecimento da crise internacional e com o ganho de popularidade de Lula. O PTista vem apresentando cerca de 40% de voto espontâneo.
Geddel é o lado mais flexível. É o candidato com menor nível de conhecimento entre os eleitores, possui baixa rejeição e terá um bom tempo de TV. Contará ainda com o apoio significativo de prefeitos do estado. Tem potencial e deve crescer no decorrer da campanha. Entretanto, se a campanha assumir a polarização das anteriores, seu eleitor pode optar pelo voto útil em um dos outros concorrentes. Há, portanto, risco de esvaziamento da chapa PMDBista.
A candidatura de Paulo Souto não tem as deficiências das adversárias, mas também não tem as mesmas vantagens. Se Wagner larga como protagonista, Souto é seu natural antagonista. A possibilidade de crescimento deste é proporcional ao aumento da rejeição ao candidato do PT. Hoje a rejeição de Wagner é tão pequena quanto a de Geddel e menor que a do próprio candidato do ex-PFL. Ao soutismo não é viável propor um pós-Wagner (como Serra busca o pós-Lula), dada a presença do governador na disputa. Contudo, a herança carlista e o papel de principal foco de oposição nos últimos 4 anos devem garantir um piso ao democrata maior que 20%. Souto aparece com cerca de 25% nas pesquisas espontâneas e teve 43% na última eleição.
O confronto nacional também influenciará a disputa na Bahia. Em 2002 Lula teve 61% dos votos na Bahia, tendo alavancado a campanha do então pouco conhecido Wagner. A força do carlismo fez com que Souto freasse uma vitória maior de Lula como no restante do Nordeste. Já em 2006 a influência de Lula foi reconhecida pelo carlismo. Nos últimos dias de campanha de TV o DEM veiculou imagens de ACM com Lula defendendo o fundo de combate a pobreza.
Nesta eleição os reflexos do cenário nacional são novamente favoráveis a Wagner. Dilma já vem alcançando cerca de 15% de frente sobre Serra no Nordeste. A rejeição do tucano é de 28% na região contra 18% da ex-ministra. Nas espontâneas, o voto em Dilma, Lula e candidato do Lula somam cerca de 30% na Bahia contra cerca de 12% de Serra.
Se a imagem de Paulo Souto estiver associada a Serra, ele terá dificuldade de subtrair eleitores do lado de Wagner. Souto terá que se sobrepor a Geddel como candidato de oposição, mas deve contar que esse consiga tirar votos do PTista, se não sequer haverá segundo turno.
O dilema de Geddel não é mais fácil. Se fizer campanha confrontando Wagner tende a ganhar a simpatia de eleitores de Souto. Só que dividir eleitores da oposição não lhe interessa, uma vez que é necessário encolher o lado governista do triângulo. Porém, confrontar com Souto pode lhe tirar do segundo turno, pois pode acentuar o papel do democrata como antagonista.
Na síntese da rigidez dos lados tem-se, aproximadamente, Wagner com 35% e Souto com 20%. Há espaço para Geddel ir para o segundo turno, mas dificilmente se excluirá o PTista. Assim, a campanha na TV em algum momento assumirá o embate entre PMDB e DEM. O papel que Geddel aspira nesta eleição é de protagonista e não de coadjuvante. Se não puder ser eleito, é imprescindível para ele ser o maior nome de oposição nos próximos anos.
Este é o panorama da eleição na Bahia. Não há céu de brigadeiro pra ninguém, mas Jaques Wagner tem tudo para seguir com mais tranquilidade no primeiro turno.
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