Hoje temos a primeira mulher presidente do Brasil. Quais as razões para mais este marco no rol do "nunca antes na história deste país"? Há explicações pautadas na economia, no carisma de Lula, nos erros da oposição, dentre outras. Chama atenção, mais uma vez, a distribuição geográfica dos votos. Serra venceu nos estados do sul, centro-oeste (exceto em Brasília) e em São Paulo. Dilma venceu no nordeste, no norte (com exceção de Roraima e Acre) e em Minas Gerais. Ou seja, a eleição foi novamente dividida entre eixos sudoeste e nordeste de forma clara. - http://eleicoes.uol.com.br/2010/raio-x/2/presidente/votacao-por-estado/
Esta divisão enseja as mais variadas análises. De um lado há a idéia de que o país se divide entre ricos e pobres, entre eleitores mais conscientes e os mais susceptíveis ao populismo. De outro existe o pensamento que o país se divide entre classe ascendente no norte e elite decadente no sul. Esta divisão era prevista. Dela decorreu a tese de que a eleição deveria ser decidida em Minas. Este pensamento demonstra o quanto o país ainda se vê sob a perspectiva da rica região sudeste. Esta visão ofusca a compreensão do processo vivido no Brasil, incluído o entendimento da eleição de Dilma.
Em seu discurso ao fim da apuração, Serra não mencionou o nome de Aécio (mencionou de outros líderes tucanos como Alkimin). Analistas viram neste silêncio a mensagem de que Serra atribui a Minas Gerais peso decisivo em sua derrota. Revelou compartilhar da incompreensão do país que debilitou a oposição nos últimos anos.
Escrevi aqui (http://livrepraque.blogspot.com/2010/05/favoritismo-alem-das-pesquisas.html) que, a despeito do desfecho em Minas, a vitória de Dilma poderia estar garantida por três grandes trunfos - Pernambuco, Bahia e Maranhão. Na Bahia Dilma venceu por 70,85% a 29,15%. Em Pernambuco por 75,65% a 24,35%. No Maranhão por 79,9% a 20,91%. Só nestes estados Dilma obteve uma vantagem de 6.820.910 votos. O quarto trunfo que não antevi foi o Ceará, onde a vitória petista foi de 77,35% a 22,65%, numa diferença de 2.325.841 votos. Assim, nestes quatro estados Dilma obteve uma margem de mais de 9 milhões e cem mil votos de uma vantagem total de 12 milhões de votos no país. Considerando que em Minas se teve cerca de 10,5 milhões de votos válidos, nem se Serra tivesse 100% disto estaria eleito.
O que ocorre é que as sucessivas candidaturas de Lula, seu governo e ampla aliança partidária tornaram a candidatura de Dilma efetivamente nacional. A massacrante vitória nos estados citados são apresentadas aqui apenas como demosntração de como o Brasil é muito muito maior que o sudeste. Atribuir a Minas ou a Aécio o fracasso da oposição é insistir numa visão míope. Qualquer pessoa que deseje se tornar presidente precisa primeiro construir pontes com todo este país de dimensões continentais. Isso vale para a acreana Marina, para o "ceaense" Ciro e certanente valerá também para o mineiro Aécio.
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