segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Top 100 - Secos & Molhados


Se minha lista de melhores discos tivesse a pretensão de ser original ou fugir do lugar comum, o álbum Secos & Molhados (1973) seria um dos primeiros a ser riscados. Por outro lado, qualquer lista que respeite a qualidade musical e a importância da obra para a cultura musical, especialmente a brasileira, deve trazer a indicação do grupo que revelou o talento de Ney Matogrosso. O álbum está calejado de figurar em listas famosas e jamais poderia ser esquecido por mim.
A banda Secos & Molhados foi genial, e o mérito disso não é só de seu integrante mais famoso. João Ricardo foi o principal compositor do grupo e idealizador de muitos conceitos da banda. Segundo conta Ney Matogrosso, foi a maquiagem do grupo que inspirou a criação da banda americana Kiss (embora haja muita controvérsia sobre isto*).
 É possível perceber influências diversas no disco, bem como este também influenciou muita gente. Difícil é rotular o estilo musical do grupo. O disco é alegre e triste, calmo e agitado. É belo e vibrante. Para quem não conhece, posso dizer que é um disco que flerta com a MPB, com o rock progressivo e com a música folclórica brasileira. Vale a pena ouvir e entender a autenticidade do que foi produzido pelo grupo. 

sábado, 28 de agosto de 2010

Ibope - Agosto (Bahia/Brasil)

Nacional:

Dilma: 51%
Serra: 27%
Marina: 7%

Estadual:

Wagner: 49%
Souto: 18%
Geddel: 12%
Bassuma: 1%

Senador:
César: 35%
Lídice: 32%
Pinheiro: 29%
José Ronaldo: 9%
Edvaldo Brito: 7%
Aleluia: 6% 
Edson Duarte: 2%

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O Fim da História!

"O Fim da História" é uma teoria social que supõe (ou supôs) que a democracia burguesa é o coroamento da história da humanidade. A tese ganhou força após a queda do muro do Berlim e no contexto neoliberal que marcou os anos seguintes a este evento. Na atual eleição brasileira parece que Lula vem decretar o fim da história na política nacional. Mas é isso? Acabou?
Com o início da propaganda política na televisão e a ampliação da vantagem de Dilma sobre Serra, a vitória lulista parece certa. Considerando a eminnte derrota da oposição também nos Estados (certamente a oposição sairá das urnas em 2010 menor que saiu em 2006), a impressão que se tem é que está terminada a discussão política no Brasil.
A direita herdeira de 1964 está a caminho do sepultamento. A social-democracia neoliberal e a hegemonia paulista centrada no PSDB também caminha para ser descartada de vez. Ainda que o PSDB consiga se reposicionar será em outro espectro ideológico. Os movimentos sociais estão contemplados em boa medida, assim como os partidos de centro e de esquerda moderada. A esquerda e a direita radical tem liberdade para expor sua posição, mas com atuação limitada a sua representação no Congresso Nacional. Os trabalhadores experimentam uma melhoria gradual em sua condição e a rica burguesia usufrui de estabilidade política e social com lucros recordes. Então, acabou?
A democracia burguesa com seus vícios e virtudes é o que escolhemos? A paternidade de Lula como fiador da boa intenção governamental é suficiente para a próxima década ou mais? Acabou?
Mais do que a atuação de Lula, a inépcia da oposição e da mídia conservadora em compreender este país deixará dois legados após outubro.
O primeiro legado é deslocamento do eixo político nacional para a chamada esquerda, em consonância com a vontade popular externada pelo brasileiro desde a primeira metade do século passado. Com o uso de vários artifícios, o conservadorismo político conseguiu manter o eixo político do governo brasileiro artificialmente alinhado ao pensamento político americano por décadas. A vitória de Lula deixou de ser um hiato na governança conservadora também pela alienação dos que se propuseram a se opor ao presidente. 
Outro legado é a legitimação de tudo que há de pior no governo do presidente Lula. Quando a mídia conservadora adotou uma postura parcial, justificou aos olhos do brasileiro os erros de Lula. Se o governo se aliou ao fisiologismo PMDBista, ficou claro que sem ele talvez não teria resistido ao ímpeto de setores golpistas. Quando parte da imprensa escolhe quais políticos devem ser atacados e quais devem ser poupados, aumenta a sensação de que corrupção permanecerá existindo mesmo com a troca dos eleitos. 
O consórcio mídia conservadora e oposição dão muito pouco crédito ao intelecto do eleitor. Acham que a grande maioria é incapaz de ter a mínima noção da disputa política que ocorre no país. Que se move apenas por influência da propaganda ou contexto econômico. A prova de que isso não é verdade é que bastou Lula ensaiar denunciar esta aliança em 2006 para atropelar Alkimin no segundo turno. 
Mas em que pese os erros da oposição e da mídia conservadora, a discussão política está terminada? Ou é a benção ao modelo atual ou é o retorno ao atraso? Chegamos lá? Acabou?
Sociedades injustas e desiguais como a nossa devem cobrar dos governos ou protegê-lo dos que supostamente querem implantar um governo pior? Dizer que as duas coisas não são antagônicas é possível, mas não quando se fala em alternativa política! Não pode ser que reste como opção acreditar que Aécio é mais "agregador", que Ciro pode ser "mais eficiente", ou que o caminho é a revolução proletária.
O país carece de lideranças de oposição que representem uma alternativa autêntica. Falta o Lula do Lula. Alguém que denuncie os 300 picaretas e não seja um deles. Que denuncie que é um absurdo bancos, empresas de comunicação, educação e saúde lucrarem bilhões tratando milhões de clientes como lixo.
Se o país é essa maravilha, porque não se pode ir a esquina da rua às 11:00 da noite? Aliás, não se pode ir a esquina nem às 11:00 da manhã se o indivíduo estiver falando ao celular ou com um relógio no braço. E quem anda quilômetros à noite por conta do péssimo transporte público tem que se acostumar a ser assaltado "x" vezes no ano. 
Isso tudo é fruto de séculos de desigualdade e agora que encontramos o fio da meada da nossa democracia burguesa os defeitos serão corrigidos?  Não carecemos de discussão política? É esta a conclusão que chegamos? É O Fim da História? 

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Das Três Metamorfoses - Friedrich Nietzsche

"Vou falar das três metamorfoses do espírito: como o espírito se transforma em camelo, e o camelo em leão, e o leão, finalmente, em criança.
Há muitas coisas pesadas para o espírito, para o espírito forte e sólido, imbuído de respeito. A força desse espírito reclama por coisas pesadas e das mais pesadas.
Que coisa pesada? - pergunta o espírito transformado em besta de carga. E ajoelha-se como camelo e quer que a carga lhe seja bem colocada. Qual é a carga mais pesada, ó heróis? - pergunta o espírito transformado em besta de carga - para que eu a carregue e me rejubile com minha força?
(***)
Na extrema solidão do deserto, ocorre a segunda metamorfose. O espírito se torna leão. Pretende conquistar sua liberdade e ser o rei de seu próprio deserto. 
Procura então seu último senhor. Quer ser seu inimigo e de seu último Deus. Para sair vencedor, quer lutar com o grande dragão.
Qual o grande dragão a que o espírito já não quer chamar senhor seu Deus? "Tu deves", assim se chama o grande dragão. Mas o espírito do leão diz: "Eu quero".
(***)
Dizei-me, porém, irmãos. Que poderá a criança fazer que não haja podido fazer o leão? Para que será preciso que o leão que ataca se transforme em criança?
A criança é inocência, esquecimento, um recomeço, um brinquedo, uma roda que gira por si própria, movimento primeiro, uma santa afirmação.
Sim, para o jogo da criação, meus irmãos, é preciso uma santa afirmação. O espírito quer agora sua própria vontade. Tendo perdido o próprio mundo, quer conquistar seu mundo."   

sábado, 7 de agosto de 2010

O Guerreiro Plínio

Lembranças de Plinio, um lutador

O Plínio (PSOL) entrou no radar dos tuiteiros e da imprensa em geral, depois da boa atuação no debate da “Band”. Foi como se o Plinio tivesse sido descoberto agora. Engraçado isso.
O candidato a presidente pelo PSOL, aos 80 anos, é das poucas lideranças (com a incômoda companhia de Sarney, talvez) que já faziam política partidária antes de 64, e seguem na ativa até hoje. Plinio era deputado pelo velho PDC (Partido Demcrata Cristão) antes do golpe. Apoiava Jango, foi cassado na primeira lista depois do golpe.
Não tenho simpatia pelo PSOL, mas gosto muito do Plinio. Peço licença para algumas reminiscências. Eu o conheci pessoalmente em 88. Plinio tinha disputado a vaga de candidato do PT a Prefeito de São Paulo, com apoio da ala majoritária do partido (Lula e Dirceu incluídos); era considerado um “moderado”. Acabou derrotado por Luiza Erundina, tida como “radical”. O que fez? terminada a prévia, correu pro comitê de Erundina e declarou apoio aberto, total. Ao contrário de setores majoritários do PT, que torciam o nariz pra Erundina, Plinio foi leal durante a campanha (como Brizola faria com Lula em 89), e parceiro durante o difícil mandato de Erundina na Prefeitura.
Guardo daquela época ótimas lembranças. Uma delas é a dedicatória que Plinio fez no exemplar da “Constituição Cidadã” que acabava de ser aprovada, e que eu ganhara de meu pai. ”Para o Rodrigo, a certeza de que, se lutarmos bastante, viveremos em um país bem melhor”, escreveu ele – que ajudara a redigir a nova Carta como deputado constituinte.
Plinio seguiu lutando. Costumava reunir muita gente em reuniões aos sábados, para debater a “Conjuntura Nacional”. Muitas aconteciam nos fundos de igrejas em São Paulo. Plinio tinha o apoio da velha guarda da esquerda católica (que logo depois seria dizimada por Ratzinger). Mas havia também o pessoal jovem, recem-saído da universidade e sem qualquer vínculo com a Igreja, alguns que tinham até certa ligação com o PCB (como esse que escreve).
No fim dos anos 80, Plinio e Chico Whitaker (então vereador pelo PT) alugaram uma casa na Barra Funda em São Paulo (a “casa da rua Marta”), onde reuniam jovens economistas, cientistas políticos, jornalistas, historiadores, sindicalistas e militantes em geral. A idéia era formular propostas para o debate interno no PT e na esquerda. Lembro bem que o Plinio achava um equívoco formulações de petistas que, naquela época, apostavam na formação de “conselhos populares” (sovietes?!) para substituir o poder das Câmaras Muncipais e assim criar o embrião de uma nova “institucionalidade”.
Para ele (e eu concordava), era coisa de gente fora da realidade: “isso só se faz em conjunturas revolucionárias; no Brasil, a luta atual é pra melhorar a democracia”, dizia. Mas, aos poucos, o Plinio mudaria.
Em 90, virou candidato ao governo de São Paulo. E lá fui eu ajudar na campanha. A ala majoritária do PT não se esforçou muito, e ele teve cerca de 10% dos votos. Plinio já começava a mostrar uma característica que só se aprofundaria nos anos seguintes: um certo desânimo com a política puramente institucional, e a aposta no fortalecimento dos movimentos sociais. No segundo turno pra governador em 90, sobraram Fleury (PMDB) e Maluf (PDS). Plinio defendia voto nulo. A turma que se reunia na rua Marta reagiu. Nunca vi aquilo. O velho militante teve que engolir jovens militantes a dizer que era necesário votar em Fleuy, sim, para derrotar o “inimigo principal”.
Lembro de uma jovem amiga, arquiteta e muito inflamada, dizendo que Plinio estava sendo sectário, míope. Ele só franzia a testa, como faz até hoje nos momentos de gravidade. Mostrou grandeza porque ouviu tudo calado. Mas no dia seguinte saiu na imprensa que ele pessoalmente pregaria voto nulo – sim! Acabei votando no Fleury no segundo turno (será que o Plinio é que estava certo?).
O velho militante católico, moderado, caminhava para a esquerda. Sairia do PT quinze anos depois, seguindo os mesmo passos de Erundina e Chico Whitaker. Ao longo dos anos, Maluf – ex ”inimigo principal” – virou aliado do governo Lula em alguns momentos. Fleury sumiu. Acho que está no PTB (partido que também compôs a base de Lula).
Plinio se aprofundou nas questões sociais. Venceu um câncer, e seguiu a militar pela Reforma Agrária. Passei anos sem falar com ele (eu estava tentando ganhar a vida, trabalhando feito louco como jornalista, distante dos debates). Até que em 2005 nos reencontramos: eu era repórter da Globo, e ele candidato a presidente do PT, durante a crise pós-Mensalão. Bem-humorado, interrompeu a coletiva no meio da rua, pra dizer: “esse aqui, olha, já trabalhou comigo, agora está aí na Globo…” Falou sem ódio, bem-humorado. Eram os fatos.
Em 2006, uma boa surpresa: quando saí da Globo, de forma tumultuada, recebi centenas de telefonemas de apoio e solidariedade. Um deles me emocionou especialmente. Era Plinio: “Olha, Rodrigo, eu já tô meio velho mas sigo por aqui, se precisar de mim sabe que não fujo da briga”. Fiquei surpreso, e grato. Essas coisas a gente não esquece. Gosto de quem não foge da briga, e mais anda de quem é capaz de fazer isso sem agressividade desmedida. É o caso do Plinio.
Nos últimos anos, retomamos algum contato: em entrevistas na “Record News”, em festas na casa de amigos comuns. Há 40 anos de diferença separando Plinio e esse humilde escrevinhador. Mas há uma ligação afetiva que não se desfaz.
Não concordo com tudo o que ele diz. Acho que a esquerda deveria reconhecer os avanços da era Lula. Deveria partir disso para construir uma alternativa melhor, e não atacar o legado de Lula. Por essa razão, provavelmente, não votarei nele dessa vez. Mas minha admiração e meu respeito pelo Plinio são irrevogáveis.
Quando eu o vi brilhar sozinho, no chato debate da “Band”, relembrei todas essas histórias. E, sozinho na sala de casa, vibrei comigo mesmo: “dá-lhe, Plinio!” Já passou da hora de alguém escrever a biografia do Plinio, um lutador, um cristão socialista que ama o Brasil.

IBOPE/Agosto - Bahia

Fonte: O Globo

Pesquisa Ibope, encomendada pela TV Bahia, afiliada da Rede Globo na Bahia, mostra o governador Jaques Wagner sendo reeleito no primeiro turno. Ele tem 46% das intenções de voto, seguido por Paulo Souto (DEM), com 19%, Geddel Vieira Lima, com 11%, e Carlos Nascimento (PSTU), com 1%.
Há duas semanas, pesquisa Datafolha mostrava o petista com 21 pontos de vantagem sobre Paulo Souto (DEM). O Ibope hoje dá 27 pontos de vantagem.
Para o Senado, o candidato à reeleição César Borges (PR) lidera com 38%. Em segundo lugar, empatados tecnicamente, estão a deputada federal Lídice da Mata (PSB), com 25%, e Walter Pinheiro (PT), com 23%. José Ronaldo (DEM) tem 10% e o deputado federal José Carlos Aleluia (DEM) 7%. Os indecisos são 48%.

domingo, 1 de agosto de 2010

Pesquisas - Julho

Na eleição americana que levou Obama à Casa Branca as pesquisas eleitorais se destacaram pela imprecisão. Houve distorção para todo lado. A história recente das pesquisas no Brasil atesta que a metodologia dos institutos permite uma aferição com alto grau de confiabilidade. Só a título de exemplo, é possível verificar que as pesquisas de boca-de-urna dificilmente divergem muito do resultado das urnas. 
O que comprometeu a credibilidade das pesquisas no Brasil foi a suspeita de uso político. Muitos institutos, dentre eles o Ibope, erraram nos últimos anos quase sempre contra candidatos de esquerda. O Ibope é ligado a rede Globo e muitos donos de afiliadas desta são filiados ao DEM ou PMDB. Atualmente o Datafolha tem sido questionado por divergir dos demais institutos e por sua ligação com a Folha de São Paulo. O jornal é acusado de ter uma cobertura parcial da campanha. A suspeita é, no mínimo, natural. Especialistas, entretanto, afirmam que o índice de acerto no Brasil é muito bom. Muito melhor que o índice americano.
Nos EUA uma prática de cobertura jornalística pouco científica se revelou eficaz. Muitos veículos passaram a divulgar a média das principais pesquisas de opinião. Tanto em relação às prévias quanto à eleição presidencial, a média das pesquisas se aproximou muito do resultado das urnas. Aplicando a mesma lógica às pesquisas brasileiras temos a seguinte evolução nas intenções de voto:


O gráfico acima é praticamente ajustável à margem de erro de todos os institutos. Há maior discrepância é com o Datafolha, segundo o qual Dilma ainda não pontuou acima de Serra. 
O Vox Populi apresenta um panorama mais coerente com a média destacada. Segundo este instituto, Dilma passou Serra e vem aumentando a vantagem de forma mais lenta do que se aproximara do tucano.
De um modo geral, o Ibope vem confirmando o Vox Populi na trajetória dos principais candidatos. Este foi o instituto que divulgou a pesquisa mais recente, apresentando Dilma com 39%, Serra com 34% e Marina com 7%.      
Estas informações revelam o seguinte:
1. Marina está há muito estagnada. Com pouco tempo de TV e pouca estrutura vai ter dificuldade em criar embaraços aos outros principais candidatos.
2. Dilma passou Serra em meados de maio e segue à frente. O empate técnico só se sustenta apenas no Datafolha.
3. Se a tendência de afastamento de Dilma e Serra se mantiver, há grandes chances de a eleição ser definida no primeiro turno. Considerando a popularidade de Lula, as notícias sobre as dificuldades na campanha de Serra e o maior tempo de TV da petista, este não é um mal palpite.