terça-feira, 26 de outubro de 2010

Censura e Silêncio!


O nome deste blog foi inspirado em reflexões de determinado livro. Reflexões estas relacionadas à natureza humana. Entretanto, a expressão "livre pra que?" é extremamente adequada para que se faça uma análise do que vem ocorrendo na mídia brasileira.
Amaury Ribeiro é um jornalista que passou pelo O Globo, Jornal do Brasil, Estado de Minas, Istoé e vários outros veículos. Foi ganhador de
alguns dos maiores prêmios de jornalismo: o Prêmio Esso (três vezes) e o Valdimir Herzog (quatro) .
Seu nome recentemente ganhou notoriedade ao ser relacionado à violação de sigilo fiscal de pessoas ligadas a José Serra. Se ele tem culpa ou não no episódio, caberá à justiça esclarecer.
Ontem, ao sair do depoimento na Polícia Federal, ele distribuiu documentos que integrariam a CPI do Banestado, aos quais obteve acesso legal. Não se tratava de declarações de renda ou bens obtidos criminosamente. Os documentos foram xerocopiados no próprio Tribunal de Justiça de São Paulo e trazem este registro de presunção de autenticidade.
A imprensa que tanto brada contra qualquer tipo de regulação, falando sempre em censura, agora se cala ante os documentos apresentados. Há um completo silêncio inclusive sobre a carta aberta do premiado jornalista a seus colegas:


No Blog do Nassif  podem ser baixados os documentos oferecidos por Amaury, em pdf.

sábado, 16 de outubro de 2010

A hipocrisia como arma política

Deu na Folha de S. Paulo

Monica Serra contou ter feito aborto, diz ex-aluna
Reportagem tentou ouvir mulher de candidato tucano por dois dias, sem sucesso

Mônica Bergamo

O discurso do candidato à Presidência José Serra (PSDB) de que é contra o aborto por "valores cristãos", que impedem a interrupção da gravidez em quaisquer circunstâncias, é questionado por ex-alunas de sua mulher, Monica Serra.
Num evento no Rio, há um mês, a psicóloga teria dito a um evangélico, segundo a Agência Estado, que a candidata Dilma Rousseff (PT), que já defendeu a descriminalização do aborto, é a favor de "matar criancinhas".
Segundo relato feito à Folha por ex-alunas de Monica no curso de dança da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a então professora lhes contou em uma aula, em 1992, que fez um aborto quando estava no exílio com o marido.
Depois do golpe militar no Brasil, Serra se mudou para o Chile, onde conheceu a mulher. Em 1973, com o golpe que levou Augusto Pinochet ao poder, o casal se mudou para os Estados Unidos.
A Folha tentou falar com Monica Serra durante dois dias para comentar o relato das ex-alunas, sem sucesso.
Um dia depois do debate da TV Bandeirantes, no domingo, 10, a bailarina Sheila Canevacci Ribeiro, 37, postou uma mensagem em seu Facebook para "deixar a minha indignação pelo posicionamento escorregadio de José Serra" em relação ao tema.
Ela escreveu que Serra não respeitava "tantas mulheres, começando pela sua própria mulher. Sim, Monica Serra já fez um aborto". A mensagem foi replicada em outras páginas do site e em blogs.
"Com todo respeito que devo a essa minha professora, gostaria de revelar publicamente que muitas de nossas aulas foram regadas a discussões sobre o seu aborto traumático", escreveu Sheila no Facebook. "Devemos prender Monica Serra caso seu marido fosse [sic] eleito presidente?"
À Folha a bailarina diz que "confirma cem por cento" tudo o que escreveu. Sheila afirma que não é filiada a partido político. Diz ter votado em Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) no primeiro turno. No segundo, estará no Líbano, onde participará de performance de arte.
Se estivesse no Brasil, optaria por Dilma Rousseff (PT). Sheila é filha da socióloga Majô Ribeiro, que foi aluna de mestrado na USP de Eva Blay, suplente de Fernando Henrique Cardoso no Senado em 1993. Majô foi pesquisadora do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero da USP, fundado pela primeira-dama Ruth Cardoso (1930-2008).
Militante feminista, Majô foi candidata derrotada a vereadora e a vice-prefeita em Osasco pelo PSDB.
A socióloga disse à Folha estar "preocupada" com a filha, mas afirma que a criou para "ser uma mulher livre" e que ela "agiu como cidadã".
Sheila é casada com o antropólogo italiano Massimo Canevacci, que foi professor de antropologia cultural na Universidade La Sapienza, em Roma, e hoje dirige pesquisas no Brasil.
A Folha localizou uma colega de classe de Sheila pelo Facebook. Professora de dança em Brasília, ela concordou em falar sob a condição de anonimato.
Contou que, nas aulas, as alunas se sentavam em círculos, criando uma situação de intimidade. Enquanto fazia gestos de dança, Monica explicava como marcas e traumas da vida alteram movimentos do corpo e se refletem na vida cotidiana.
Segundo a ex-estudante, as pessoas compartilhavam suas histórias, algo comum em uma aula de psicologia.
Nesse contexto, afirmou, Monica compartilhou sua história com o grupo de alunas. Disse ter feito o aborto por causa da ditadura.
Ainda de acordo com a ex-aluna, Monica disse que o futuro dela e do marido, José Serra, era muito incerto.
Quando engravidou, teria relatado Monica à então aluna, o casal se viu numa situação muito vulnerável.
"Ela não confessou. Ela contou", diz Sheila Canevacci. "Não sou uma pessoa denunciando coisas. Mas [ela é] uma pessoa pública, que fala em público que é contra o aborto, é errado. Ela tem uma responsabilidade ética."

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Pesquisas do Segundo Turno

Datafolha: Dilma 54%, Serra 46%
Ibope: Dilma 53, Serra 47%
Sensus: Dilma 52,3, Serra 47,7%
Vox Populi: Dilma 54,5%, Serra 45,5%


O eleitor do primeiro turno, em regra, já tem um plano B. Quem votou em Marina e nos demais candidatos já tinha em mente em quem votar no segundo turno. Assim, as primeiras pesquisas não mostram exatamente a evolução da intenção do eleitor, mas a reorganização política diante do novo quadro. 53% a 47%, este é mais ou menos o patamar de votos de cada candidato. O eleitor do segundo turno tende a ser menos flexível. A essa altura mudar de candidato parece um pouco como mudar de time. Isto não significa que a eleição está definida em favor de Dilma. Com uma margem tão estreita, fatores como a abstenção ou boca de urna podem ter um peso decisivo.
Se o QG do PT deve estar em alerta e o do PSDB animado, isso pode mudar com as próximas pesquisas. É como num jogo de futebol em que o time que perdia por 2 a 0 faz um gol no segundo tempo. O time que diminuiu a diferença passa a jogar mais animado, mas, se o jogo terminar assim, continuará saindo derrotado.

Voto consolidado.
As medições espontâneas, que indicam o eleitorado mais convicto, apontam Dilma com 45% e Serra com 40%. Assim, existe uma massa "fluida" de eleitores em torno de 15%. É difícil afirmar com precisão o que distingue esses eleitores dos demais. Pode ser que sejam menos interessados por política, seja pela baixa escolaridade, por mera apatia ou maior desilusão com o processo eleitoral. Sabe-se que entre os indecisos costuma haver um percentual maior de mulhers e de eleitores de baixa renda. Na falta de dados mais, é impossível dizer que este eleitor atue de forma diferente dos demais. Fica claro que entre os não convictos, Serra tem que ganhar na proporção de 2 para 1. É um grande desafio considerando os números do primeiro turno.   

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Tradição, Família e Propriedade

Um quinto do eleitorado. Isso é o que representa a fatia de votos dados a Marina Silva. Representa também o desejo de ir além dos projetos implantados no país nos últimos 16 anos. Representa o repúdio à política ortodoxa e fisiológica. Repúdio à política que nos últimos 16 anos tratou coronéis como lideranças legítimas e que muito pouco avançou no combate à corrupção.
Interesses de várias espécies então traduzindo o legado eleitoral de Marina (ou dos votos nela) em uma manifestação da sociedade na direção dita conservadora. A versão que está posta indica que as urnas clamaram por uma retórica puritana.
Serra declarou hoje estar disposto a "debater valores" (http://eleicoes.uol.com.br/2010/ultimas-noticias/2010/10/07/serra-ataca-dilma-e-promete-debater-valores-para-virar-eleicao.jhtm). O debate que pretende travar é sobre quem é mais ligado à família, à democracia, à liberdade, à honestidade. Ou seja, sobre quem é o bom cristão. Um discurso típico do macho, adulto, branco, católico, classe média. Nos EUA, foi com este discurso que Jonh Mcain tentou fugir da herança impopular que o presidente Bush Jr. lhe deixou. No Brasil, é assim que Serra ensaia deixar a comparação entre governos em segundo plano.
Será extremamente frustante se a renovação política almejada por Marina resulte em velhas Tradições: Tradição Família e Propriedade*!


Panfleto pró-TFP circula em reunião de cúpula tucana

Texto incita militantes a divulgar na web que plano de Dilma inclui perseguir cristãos, legalizar aborto e prostituição.

Participantes da reunião de cúpula da campanha de José Serra (PSDB) hoje (6.out.2010), em Brasília, receberam um panfleto com instruções sobre como propagar uma campanha anti-Dilma na internet. Num dos trechos, recomenda aos militantes visitarem o site do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, um dos fundadores da TFP ( Sociedade Brasileira de Defesa de Tradição, Família e Propriedade), uma das mais conservadores agremiações do país.
O panfleto basicamente se refere ao PNDH-3 (Programa Nacional de Direitos Humanos), lançado pelo governo Lula no final do ano passado. Eis um dos trechos do panfleto divulgado na reunião tucana:

“O PNDH-3 é um projeto de lei que tem por objetivo implantar em nossas leis a legalização do aborto, acabar com o direito da propriedade privada, limitar a liberdade religiosa, perseguir cristãos, legalizar a prostituição (e onde fica a dignidade dessas mulheres?), manipular e controlar os meios de comunicação, acabar com a liberdade de imprensa, taxas sobre fortunas o que afastará investimentos, dentre outros. É um decreto preparatório para um regime ditatorial”.

*Segundo o Wikpedia a Tradição, Família e Propriedade (TFP) é uma organização católica tradicionalista, conservadora, reacionária e anticomunista brasileira.
A TFP foi uma das articuladoras da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, manifestação civil de apoio aos setores políticos que apoiaram o Golpe de 64.






Medicina Fantástica

Do prodígio João M. (link na coluna à direita):

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Nem Onda, Nem Marola Verde - ou - O Peso das Outras Vias

Antes da eleição escrevi sobre Ciro e Marina, dois personagens de destaque neste pós 1° turno (http://livrepraque.blogspot.com/2010/04/oposicao-verde-amarela.html). Ciro foi elevado à condição de coordenador político de Dilma. Marina é disputada como grande trunfo para o 2° turno.
Na análise feita em abril, eu destacava que Ciro e Marina poderiam quebrar a polarização PT/PSDB, enriquecendo o debate de forma benéfica para nossa democracia. Dizia que se pudessem disputar unidos as eleições, partiriam de um bom patamar nas pesquisas e razoável tempo de TV. Mesmo limitada no horário eleitoral gratuito e sem Ciro, a candidata verde obteve um excelente resultado.
A candidatura de Marina trouxe um simbolismo ainda não completamente compreendido no meio político. Por um lado, mostrou que o eleitor é mais plural que as duas opções que os gabinetes de Brasília (e São Paulo) tentaram impor ao país. Por outro lado, o cidadão se mostrou sensível ao discurso da ética, do crescimento sustentável, da política pautada em ideias. Porém, o saldo mais parente da surpreendente votação de Marina não está à altura dos méritos apontados.
A "onda verde" talvez seja a pior definição sobre os resultados da eleição. Pressupõe a ideia de um movimento brusco, impensado. Não se pode ter certeza de que os votos a Marina foram deste ou daquele "tipo de eleitor". A única certeza é sobre a distribuição geográfica dos votos. Nem mesmo as pesquisas, tão imprecisas para o caso, servem de parâmetro para traçar o perfil deste eleitorado. Ainda que seja verdade que a candidatura do PV foi impulsionada por conservadores e jovens urbanos, não há razão para considerar que decisão destes seja menos qualificada que a dos demais. 
A tese da "onda verde" mascara a compreensão do processo político vivido. A julgar pelas notícias e análise recentes, o legado da terceira força na eleição é um neo-ambientalismo um tanto hipócrita e uma religiosidade fora de lugar. Muito pouco, senão um equívoco.
As pesquisas de abril deste ano já apontavam a soma das intenções de voto em Marina e em Ciro em cerca de 19% (http://noticias.uol.com.br/fernandorodrigues/pesquisas/2010/1turno/presidente.jhtm). Este dado é relevante na desconstrução da ideia de que uma onda levou o país ao segundo turno. Talvez não seja atoa o chamamento feito a Ciro pela campanha de Dilma. Mesmo diante da polarização de 2006, o jovem e radical Psol obteve ao lado do Cristóvão Buarque (cuja base política, Brasília, representa 1,35% do eleitorado nacional) quase 10% dos votos. Há na sociedade mais espaço para opções fora do cardápio restrito oferecido por Lula e pelo PSDB paulista nesta eleição. Compreender as razões deste espaço é a chave para moldar a política nacional nos próximos anos. A outra opção é aceitar que para além das praias tucanas e PTistas só existem passageiras marolas.