terça-feira, 24 de agosto de 2010

O Fim da História!

"O Fim da História" é uma teoria social que supõe (ou supôs) que a democracia burguesa é o coroamento da história da humanidade. A tese ganhou força após a queda do muro do Berlim e no contexto neoliberal que marcou os anos seguintes a este evento. Na atual eleição brasileira parece que Lula vem decretar o fim da história na política nacional. Mas é isso? Acabou?
Com o início da propaganda política na televisão e a ampliação da vantagem de Dilma sobre Serra, a vitória lulista parece certa. Considerando a eminnte derrota da oposição também nos Estados (certamente a oposição sairá das urnas em 2010 menor que saiu em 2006), a impressão que se tem é que está terminada a discussão política no Brasil.
A direita herdeira de 1964 está a caminho do sepultamento. A social-democracia neoliberal e a hegemonia paulista centrada no PSDB também caminha para ser descartada de vez. Ainda que o PSDB consiga se reposicionar será em outro espectro ideológico. Os movimentos sociais estão contemplados em boa medida, assim como os partidos de centro e de esquerda moderada. A esquerda e a direita radical tem liberdade para expor sua posição, mas com atuação limitada a sua representação no Congresso Nacional. Os trabalhadores experimentam uma melhoria gradual em sua condição e a rica burguesia usufrui de estabilidade política e social com lucros recordes. Então, acabou?
A democracia burguesa com seus vícios e virtudes é o que escolhemos? A paternidade de Lula como fiador da boa intenção governamental é suficiente para a próxima década ou mais? Acabou?
Mais do que a atuação de Lula, a inépcia da oposição e da mídia conservadora em compreender este país deixará dois legados após outubro.
O primeiro legado é deslocamento do eixo político nacional para a chamada esquerda, em consonância com a vontade popular externada pelo brasileiro desde a primeira metade do século passado. Com o uso de vários artifícios, o conservadorismo político conseguiu manter o eixo político do governo brasileiro artificialmente alinhado ao pensamento político americano por décadas. A vitória de Lula deixou de ser um hiato na governança conservadora também pela alienação dos que se propuseram a se opor ao presidente. 
Outro legado é a legitimação de tudo que há de pior no governo do presidente Lula. Quando a mídia conservadora adotou uma postura parcial, justificou aos olhos do brasileiro os erros de Lula. Se o governo se aliou ao fisiologismo PMDBista, ficou claro que sem ele talvez não teria resistido ao ímpeto de setores golpistas. Quando parte da imprensa escolhe quais políticos devem ser atacados e quais devem ser poupados, aumenta a sensação de que corrupção permanecerá existindo mesmo com a troca dos eleitos. 
O consórcio mídia conservadora e oposição dão muito pouco crédito ao intelecto do eleitor. Acham que a grande maioria é incapaz de ter a mínima noção da disputa política que ocorre no país. Que se move apenas por influência da propaganda ou contexto econômico. A prova de que isso não é verdade é que bastou Lula ensaiar denunciar esta aliança em 2006 para atropelar Alkimin no segundo turno. 
Mas em que pese os erros da oposição e da mídia conservadora, a discussão política está terminada? Ou é a benção ao modelo atual ou é o retorno ao atraso? Chegamos lá? Acabou?
Sociedades injustas e desiguais como a nossa devem cobrar dos governos ou protegê-lo dos que supostamente querem implantar um governo pior? Dizer que as duas coisas não são antagônicas é possível, mas não quando se fala em alternativa política! Não pode ser que reste como opção acreditar que Aécio é mais "agregador", que Ciro pode ser "mais eficiente", ou que o caminho é a revolução proletária.
O país carece de lideranças de oposição que representem uma alternativa autêntica. Falta o Lula do Lula. Alguém que denuncie os 300 picaretas e não seja um deles. Que denuncie que é um absurdo bancos, empresas de comunicação, educação e saúde lucrarem bilhões tratando milhões de clientes como lixo.
Se o país é essa maravilha, porque não se pode ir a esquina da rua às 11:00 da noite? Aliás, não se pode ir a esquina nem às 11:00 da manhã se o indivíduo estiver falando ao celular ou com um relógio no braço. E quem anda quilômetros à noite por conta do péssimo transporte público tem que se acostumar a ser assaltado "x" vezes no ano. 
Isso tudo é fruto de séculos de desigualdade e agora que encontramos o fio da meada da nossa democracia burguesa os defeitos serão corrigidos?  Não carecemos de discussão política? É esta a conclusão que chegamos? É O Fim da História? 

Um comentário:

  1. Belo artigo. Só não sei se essa foi a estratégia na qual Lula derrotou Alckmin em 2006. No mais, concordo...

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