terça-feira, 16 de novembro de 2010

O futuro governo Dilma e as lições de Maquiavel.


“Nada é tão fraco e instável quanto a potência
 de quem não se apóia na própria força.”

Como se dará a governabilidade para Dilma? Com tradição em quedas de mandatários, o país conviveu na última campanha com termos como “golpismo”, “autoritarismo”, “risco à democracia e a liberdade”. É preciso considerar que a futura presidente enfrentará interesses que transcendem a disputa partidária. Neste cenário, poucos conselheiros seriam tão precisos quanto o polêmico Maquiavel.
Para o autor de O Príncipe, as tropas de um governante seriam de três tipos: próprias, auxiliares e mercenárias. As primeiras seriam leais, ligadas a facção do líder desde sua origem. As segundas surgem de acordos com grupos externos, sendo mais leais a estes. O terceiro grupo é recrutado pelo dinheiro e age em razão deste.
A base política de Dilma é precária já no que tange as suas próprias tropas. Ela não tem liderança histórica dentro de seu partido. Entretanto, se conseguir contar com a lealdade do PT em razão do prestígio de Lula, terá o apoio da maior bancada na Câmara (88 deputados), segunda maior do Senado (11 senadores) e da militância mais bem estruturada do país.  
A principal força auxiliar do governo, o PMDB (16 senadores e 79 deputados), possui um tamanho compatível ao do PT.  Ambos terão cinco governadores, bancada no congresso e tempo de TV parecidos. PT e PMDB também são os partidos com presença significativa em todas as regiões do país e na grande maioria dos municípios. Há ainda forças importantes como o PSB de Ciro e seus seis governadores e do PR e PP que juntos somam mais deputados federais (82) que o PMDB e 7 senadores (o que representaria a terceira maior bancada da casa).
Sobre o perigo do apoio de forças auxiliares Maquiavel dizia: “Se são vencidas, representam a derrota; se vencem, aprisionam quem as utiliza”.  Para o autor, é preferível perder com as próprias forças a vencer com este tipo de ajuda. O risco é que organizadas e leais a outros, estas forças podem usurpar do governante o poder. É possível verificar que o PMDB apossou-se de um espaço caro ao PT no governo que se encerra. Um exemplo disto foi o desgaste de precisar apoiar Sarney quando ele esteve bombardeado por escândalos. Por outro lado, a força adquirida pelo PMDB obrigou o PT a ceder espaço nos Estados na disputa de agora.
Em tempos de paz, as forças mercenárias são as que se aproximam do líder e lhe dão sustentação por interesses econômicos. Com a força econômica do executivo federal, qualquer mandatário terá este tipo de apoio. Ele está difundido dentro dos diversos partidos políticos e nos demais setores auxiliares a um governante, como sindicatos, movimentos sociais, igrejas, imprensa, empresários, dentre outros setores organizados.
Segundo Maquiavel, aquele de depende de mercenários é “despojado na guerra pelos inimigos, e na paz por eles próprios”. Quem apóia por dinheiro, tende a ser indisciplinado e covarde. Ou seja, costuma a se desmobilizar ou mudar de lado quando muda a perspectiva de poder.
O risco causado por forças mercenárias vem da sua inépcia e das forças auxiliares de sua eficácia. Afinal, os primeiros não ajudam o suficiente nas crises, e os segundos podem ter interesse em causá-las.  
O pensador italiano ensinava que muitas vezes é impossível prescindir dos três tipos de tropa para chegar o poder. Entretanto, o êxito de um governo depende do manejo e ponderação destas forças. Logo, a gestão de Dilma dependerá organização dos partidos auxiliares, especialmente o PMDB. Se este estiver disciplinado e leal a uma liderança alternativa, poderá tumultuar o governo. Caso se porte como um “ajuntamento” mercenário, seguirá a maré de popularidade da presidente. Em todo caso, dependerá sempre do apoio Lula. Sem este sequer terá forças próprias para contrapor adversários fora e dentro do governo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário