quinta-feira, 29 de abril de 2010

Crônica do Personagem Ciro 3 - Acabou?

"Presidência é destino":Na eleição de 2002 Ciro ficou em quarto lugar. Atrás de Lula, Serra e Garotinho. Durante a campanha Ciro chegou a ficar em segundo lugar, sendo abatido pelo seu temperamento e pelas críticas de Serra. Ainda ssim, Ciro teve 10.170.000 votos, 2,5 milhões acima de sua votação em 1998.
No ano seguinte o cearense foi do PPS ao PSB por não aceitar ficar na oposição. Foi nomeado para o importante Ministério da Integração Nacional. No primeiro mandato de Lula, Ciro foi de uma lealdade ímpar. Jamais criticara publicamente o presidente, saindo sempre em sua defesa. Durante o episódio do mensalão Ciro compôs o núcleo de articulação mais próximo de Lula. Foi mais fiel e importante na defesa do presidente do que boa parte do próprio PT. Chegou a ser cogitado como candidato a vice-presidente na re-eleição do PTista.
Presidência é destino, já dizia Tancredo Neves. E o destino foi cruel com as pretensões de Ciro. Em 2006 a eleição estava submetida à cláusula de barreira. Os partidos que não tivessem uma votação mínima nacional estariam fadados a desaparecer ou a fundir-se com outro. Para manter vivo o PSB, Ciro candidatou-se a deputado federal, sagrando-se o deputado de maior percentual de votos na história do país.
Para sua ambição presidencial seria muito melhor ser governador, um cargo de maior visibilidade e com um orçamento para administrar. É certo que mesmo para as dimensões do cargo de deputado Ciro teve uma atuação apagada. A eleição de Eduardo Campos ao governo de Pernambuco pelo PSB tirou de Ciro a condição de maior cacique do partido. Além disto, a adesão do PMDB ao segundo governo lulista reduziu o espaço dos PSBistas.
Inventando a roda: Ciro alega que não aceitou ser ministro no segundo governo Lula devido às alianças fisiológicas deste com o PMDB e outros, mas manteve-se governista. Assim o cearense buscou três ineditismos. Primeiro quis manter-se viável sem projetar-se na mídia e criticando alianças ao invés de promovê-las para si. Depois apostou em lealdade como moeda na política. Esperou que sua fidelidade ao partido e ao presidente seria recompensada com um lugar no pleito. Erro estratégico imaginar que o presidente indicaria alguém fora do PT.
Por fim, a falha mais grave de Ciro foi apostar em ser um plano B de Lula. Nunca vi isso em política. Um governante bem avaliado jamais lança dois candidatos. Dividiria forças, além de que todo plano B presume/expõe a fragilidade do plano A. Delegar a terceiros o poder de decidir seu destino nunca é um bom caminho.
Conciliação de interesses: A máxima política de que é preferível ter um perfil conciliador é relativa. Alkimin sempre dividiu o partido para ser candidato. Pode-se dizer que ele perdeu a eleição em 2006 para presidente e para prefeito em 2008 em razão disto. Também em razão disto ele garantiu seu espaço e será candidato ao governo este ano. Serra agora prevaleceu sobre o conciliador Aécio.
A verdade é que nem todos interesses são conciliáveis. Ciro demorou para perceber que objetivos iguais são como dois corpos tentando ocupar um lugar no espaço. No PSDB seu interesse era o mesmo do núcleo paulista e por isso teve de sair do partido. Em 2010 seu interesse é igual ao do PT. Devia ter esticado a corda ou mesmo arrebentado quando Dilma tinha 1% nas pesquisas. Estava clara a opção do presidente. Não havia mais conciliação possível.
O erro de Ciro foi ele mesmo ter plano B ruim, ou não ter um plano B. A alternativa dele era ser uma candidato ainda que inviável. Contar com a sorte para ir ao segundo turno ou ganhar vizibilidade para 2014. Má idéia, mesmo porque com o fantasma da volta de Lula, a hora deveria ser agora.
Ciro se enxergou muito grande. Teve a percepção de que esteve muito próximo da cadeira presidencial em 2002. Avalia que está lhe fugiu por erros táticos e tropeços de campanha. Achou que moderando sua lingua estaria destinado ao sucesso. Só que ninhuém é levado pela inércia aos pleitos seguintes, como ficou claro para Serra em 2006. Podia ter aceitado a saída planejada por Lula que arquitetara uma super coligação para ele em São Paulo. Optou por seus próprios planos que, de tão ruins, lhe deixaram sem batalhas.

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