sábado, 12 de junho de 2010

Lebesraum - O Espaço Vital*

O que acontece hoje no mundo guarda certa similaridade com o início do século passado. Naquela época o mundo estava dividido em colônias entre determinadas potências. Com um período de grande intercâmbio econômico mundial, surgiram potências emergentes disputando áreas de influência com as já estabelecidas. Conflitos periféricos foram aumentando de proporção, acarretando as guerras mundiais. Novamente o mundo assiste a emergência de forças com ambições de expansão de sua influência.
A guerra-fria manteve o contexto de disputa de áreas de influência e conflitos periféricos, mas a paz armada entre URSS e EUA prevaleceu. Após a queda dos socialistas, o força econômica passou a ser a principal arma dos americanos para impor seus interesses, mas não única. A Guerra nos Bálcãs testou uma nova força, a OTAN. Os conflitos étnicos foram pano de fundo da fragmentação de paísses que em outros tempos estiveram alinhados à URSS. O pretexto humanitário de acabar com massacre de ditadores até hoje não resultaram em intervenção militar da OTAN na África, por exemplo. Não foi atoa que parte dos avanços da OTAN no leste europeu foi barrada pela chegada de tropas Russas.
A eleição de Bush Jr. e o 11 de setembro modificaram a geopolítica mundial. Futuramente esses dois fatos serão citados como causas dos eventos seguintes. As mentiras usadas para invadir o Iraque provam que o ataque às torres gêmeas não explicam sozinhos a invasão daquele país. Por outro lado, é fato que o mais sangrento ataque à maior potência mundial pautou os debates de política externa norte-americano.
Com a invasão do Iraque à revelia da ONU, os EUA criaram um novo paradigma. Os americanos têm um orçamento militar equivalente à metade do que é gasto no mundo. Com apoio de potências européias, fizeram da OTAN uma força então incontestável no mundo. Com pretexto moral fornecido pelo terrorismo e pela ditadura de Sadan e se valendo da prévia distribuição de tarefas na futura "reconstrução" do país, Bush Jr. ignorou os apelos de França, Rússia e China no Conselho de Segurança da ONU.
Neste particular as guerras de Bush lembram as invasões promovidas pela Alemanha antes da Segunda Guerra. A Alemanha tinha sido lograda nos acordos firmados após a Primeira Guerra, o que lhe conferiu justificativa moral para as primeiras anexações territoriais.
A doutrina Bush era audaciosa e avançava. Apertou o cerco ao eixo do mal, representado por comunistas remanescentes e o Irã. Na América Latina foram hostilizados os aspirantes a socialistas bolivarianos. Nos sonhos dos falcões de Washington sairiam do poder a dinastia Castro e Chavez. Governos moderados em nações mais importantes como Brasil e México ou radicais em países militarmente fracos como Bolívia e Equador seriam relevados. A conta era de que em caso de maior tencionamento, inimigos não contassem com a simpatia extremada de ninguém muito próximo ou muito relevante no continente americano. O escudo anti-missísl no leste europeu também foi parte do projeto de poder americano.
O projeto da pax americana foi abalado por dois fatores. O primeiro está relacionado aos altos custos das Guerras de Bush. O custos financeiros e políticos (em parte em razão das mentiras sobre as armas químicas) desgastaram o governante americano e aliados. A guerra ao terror perdeu apoio, custando o mandato do então primeiro ministro inglês, Tony Blair, um de seus avalistas. Neste sentido, a resistência iraquiana e dos talibãs tiveram uma relevante contribuição, podendo no futuro ser reavaliado o papel destes no mundo.
O outro fator foi a crise financeira de 2008/09. Com problemas financeiros de seus contribuintes, a cara política beligerante teve que ser reavaliada. Estes dois fatores tiraram dos republicanos conservadores a presidência dos EUA e entregaram ao democrata Obama. A crise também tornou evidente o peso de economias emergentes como os BRIC´s e, fundamentalmente no caso de Rússia e China, a força econômica é amparada em força militar.
Caso Obama seja merecedor do Nobel da paz que recebeu, terá grandes desafios. Um deles é convencer o público interno de que outro caminho é desejável. Além disto, terá que contornar a crise econômica de seu país, cuja recuperação é ameaçada pela crise européia. Se falhar nestes objetivos, seu mandato será um hiato no conservadorismo belicista. Se o presidente americano não estiver à altura da honraria recebida seus desafios serão mais parecidos com os das potências européias no século passado.

*O conceito de espaço vital (em alemão, Lebensraum) foi concebido por Friedrich Ratzel como o espaço de vida dos grupamento humanos. O espaço vital seria o espaço necessário para a expansão territorial de um povo,no caso, alemão. O interesse alemão nesta expansão justificava-se em certa medida pelo fato de o país ser retardatários na expansão marítima européia, e ao contrário da França e da Inglaterra, não tinha vastos domínios coloniais. Hitler considerava que a "raça ariana" (que segundo ele, era superior) deveria permanecer unida, e para uni-la a Alemanha deveria possuir um território maior. Esse território era onde o povo germâncio morava, porém foi dividido.Era chamado de "Espaço Vital Alemão".

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